segunda-feira, 29 de junho de 2009

Dia de São Pedro

"Com a filha de João, Antonio ia se casar, mas Pedro fugiu com a noiva, na hora de ir pro altar..."

Quando se entende o mito, ou arquétipo, é importante, quase básico, que se estabeleça uma relação deste com outros similares, o que se entende por sincretismo. São Pedro, no candomblé daqui do RS e de Cuba (incrível, mas os dois têm a mesma linha), é sincretizado com Exú. Que, por sua vez, pode ser sincretizado com Plutão-Hades - o senhor do Averno, ou Inferno (mas não como é entendido do ponto de vista cristão. Para os povos primitivos, não havia a polarização Bem e Mal, lembre-se.)
São Pedro pode ser relacionado também, além de Plutão, com Hermes Psicopompe - que transitava, ou contrabandeava (talvez daí ser o patrono do Rio Grande, terra de bárbaros na sua origem, oigalê!) as almas daqui prá lá, e, raramente, se não me falha a memória, no caminho inverso.
É um santo-orixá-deus-mito de fronteira. Ele cuida dessa passagem.
E São Pedro, de quebra, cuida do clima. Vê se pode...

Então, talvez hoje, a reflexão possa ser nesse sentido: sobre como ultrapassar nossos limites e fronteiras, pedir a ajuda do santo pra conseguir aquela casa tão sonhada, a sua autorização (e tudo isso, não se confunda, significa mesmo uma conversa que terás com o teu inconsciente e não com alguém de fora; apenas que porás um nome nesse departamento, como uma http, capicce?) para explorar melhor novos mundos, e otras cositas que tua imaginação ousar.
Na bruxagauderia tem mais.
Boa festa!

quarta-feira, 24 de junho de 2009

ASTROLOGIA

1 - Mens Sana

Eu nunca precisei “acreditar” em Astrologia. Lá pelos meus dez anos, sentada nas escadarias da casa da minha avó, ao observar os tios, as primas, a parentalha, enfim, entrar em cena, ficava relacionando suas atitudes aos seus signos. Não chegava a ter uma clareza plena do significado disto, nem lembro da primeira vez em que – se é que – cheguei a comprar alguma revista sobre Signos, mas acredito que sim. Algo deve ter acionado esse reservatório; de qualquer forma, o que eu já sabia, era muito.

Outro fato que, ainda na infância, me fez ver além da matéria, digamos, era aquela coisa (que até contei no prefácio da Gaudéria*) de ser conduzida pela minha madrinha, de Peixes... para uma espécie de ritual nos domingos de grenal.

Morávamos praticamente em frente ao Estádio dos Eucaliptos – antiga sede do Colorado, pra quem não sabe, e dizem que futuro shopping (mais um...) –, sendo a família, quase que inteirinha, gremista. Naquelas tardes de domingo em que o jogo estava bem complicado para o Grêmio, depois de algumas considerações, e incentivos por parte de meu avô, a minha madrinha se decidia, me convidando, e lá bem no fundo do pátio, colocava, numa pedra, um copinho de cachaça e um charuto pro Negrinho do Pastoreio. Que, na minha cabeça, se confundia com Saci Pererê e até com Exu. Com intenções nada benignas de fazer com que os jogadores do Inter trocassem um pouco as pernas. Depois de uns bons quinze a vinte minutos, a coisa começava a fazer efeito e... batata! o Grêmio começava a se recuperar. E o mais incrível é que, quando eu ia olhar que fim haviam levado aquelas coisas lá nos fundos, constatava que o charuto ia muito bem, obrigado, fumegando... como se estivesse sendo fumado, e a cachacinha... evaporando-se!...
Sei que parece história de pescador, e, como esta, até tenho outras. Mas o fato é que durante toda a minha vida sempre percebi que havia uma... dimensão paralela. Era uma coisa praticamente inquestionável.

Pela vida, segui tendo outras constatações que me faziam seguir nessa direção.

Sem contar a Música** e a Dança...

Quando, no primeiro ano do Clássico, me deparei com a Filosofia, voltei para casa em estado de êxtase. Era aquilo que eu queria ser!... – O quê, minha filha? – perguntou minha mãe, ao me ver sentada de olhos postos no horizonte e com cara de coisa canonizada. – Isso, quero passar a vida pensando, questionando... o “ser ou não ser”...
Na minha família, a loucura (da boa) era, se não incentivada abertamente, pelo menos tolerada. Ou uma metodologia do tipo: se a gente fingir que não tá vendo, isso passa...
No segundo ano, entrou a Psicologia, e... Jung! Aí, foi pura epifania.

Desse tempo em diante, aquela coisa de “arquétipos” ficou na minha cabeça. Sabendo, por exemplo, que eu era uma leonina e, segundo uma vizinha espírita (e sogra de um grande jogador do Inter), filha de Iansã, além de outras coisas que outra vizinha ligada ao candomblé me havia dito, comecei a juntar tudo e entender que estávamos falando dos tais arquétipos. Arquétipo então era aquilo: se em toda a civilização temos um deus, ou santo, ou herói que tem ou simboliza a mesma energia, isto é universal. Humano. Está no Inconsciente Coletivo – outro pilar junguiano, por sinal.

Com o tempo, fui fazendo outras conexões e, quando comecei mesmo a estudar Astrologia, já tinha toda essa Mitologia muito clara em minha cabeça.
Tinha estudado até a relação de cada energia com cada coisa: tipo, a energia do guerreiro se encontra no alho, que tem a ver com Áries; Touro rege a voz e esta, quando está com problemas, é curada pela camomila, a erva deste signo. Entendi a conexão com as cores, com os sons, com as pedras preciosas, até com cidades e países, e com as partes do corpo. Juntei com terapias orientais milenares, e apliquei-as à Dança.
E, como eu criava Ballets que tinham personagens bem definidos – e brasileiros –, trabalhei a Criação de Personagens, com o método Stanislavski e... com os arquétipos.

Nada disso, no entanto, me fala de fé. São pensamentos, constatações, estudos. Daí que, quando alguém vem achando que este conhecimento tem algo a ver com qualquer forma de crença, sempre me dá uma sensação de desconforto. Tanto aquela pessoa que chega “do alto” se sentindo a “científica”, muito embora nem saiba o que isto quer dizer realmente, quanto aquela que entra em meu consultório me olhando como se eu fosse o Paulo Coelho.

Na verdade, sou até cética. Não gosto de “acreditar” em nada, pois isto me cheira a falsidade. Ou a coisa é ou não é. Simples assim.
Como assim? Algo que a gente sente que é verdadeiro e que nos faz querer saber mais. E aí a gente lê, pesquisa, estuda, aprende, pergunta, questiona, duvida, encontra.


* - A Bruxa Gaudéria e o Bando de Loco! Martins Livreiro/
** - Quando comecei a jogar Tarot, entendi que o ato de “puxar as cartas” era semelhante ao processo de “tirar uma música de ouvido” – coisa que comecei aos dois anos e meio de idade. Conto isso mais adiante, ou no Cine Ipanema. De qualquer modo a carta, a runa, etc, assim como a nota musical, parece que fica “quente”, que nos chama. E, por favor, não confunda essa parte do “tirar” com a parte do conhecer o tema. Uma é intuitiva, a outra requer muitos anos, talvez a vida inteira, de estudo.