quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Afinal, Natal

Esse ano, não sei se por conta de O Herói de Mil Faces, do Campbell, que me faz pensar muito a respeito da essência divina, que é o Mito, ou vice-versa, enveredei pelo Budismo. E com isso, a gente vê essas entrevistas com pessoas que fazem o Bem, espiritualistas, gente que aconselha, o diabo a quatro (que não seria exatamente o diabo, nesse caso) de forma bem diferente. Na verdade, quase que não sobra muita coisa. E juntando a isso o meu lado punk, quase que não sobra nada. É como se eu tivesse perdido a graça de tudo, e ainda uma puta dor na coluna-bacia por uma faxina afu de Natal, e vou levando. Metendo luzinha aqui, decoração ali, exercitando como sempre o meu senso estético e a mania da decoração. E ouvindo muita música, pois sempre que começo tudo é com a Música. Baixei 300 e selecionei umas 25, aquelas coisas que não perdem o sentido e não enchem o saco: Frank Sinatra, Rosemary Clooney (a tia do George),e tudo o que é dos anos 50: clean, ninguém precisa cantar aos berros como essa nova insuportável safra de "voices". Então, durante um tempo ficou só o som. E aqueles presentinhos, coisinhas, lembranças de telefonar, etc, o básico. Mas eu durona na parte de dentro. Então sem forçar nada, entendi. O Natal é o contato com o sagrado. Até o simples banho tem a mesma vibração de um puta banho de mar. O barulho do ventilador combinado com a brisa nos sinos da felicidade e com alguns passarinhos parece querer me dizer alguma coisa. Até me rendi por momentos ao jogo das luzinhas que os chineses souberam fazer de modo admirável, honorável, e ao perfume do incenso e a mais alguma coisa que agora esqueci, mas não por efeito da mesma. Então é isso. O Natal é o sagrado. É perceber que a vida, enfim, tudo, faz sentido. Mesmo sem fazer. É o sentido do renascimento, de que a Vida renasce queiramos ou não. Desconfio de quando uma pessoa fala Deus isso, Deus aquilo. Me ajudará, me trará, acredito nEle, etc. Então Deus é um puta quebra-galho, uma espécie de SUS ou de Instituto de Previdência que tá sempre em algum lugar (diferente dos exemplos), para nos obsequiar? Quando escuto isso, penso no que essa pessoa está fazendo para retribuir, ou - e aí entra de novo o tal Budismo - para refazer essa energia. A pessoa devolve a Bondade que recebe? Ela ajuda a criar essa força tarefa gigantesca oferecendo amor? Ou apenas vai tirando? Não consigo entender Deus sem entender a Energia. É como se a energia do amor criasse vida, e a energia do cansaço, má vontade, etc, criasse a morte. E esse seria o Mal. Daí que quando juntam pretensos médicos, cientistas, para uma entrevista, ou apenas quando os vejo torcer a boca para "essas coisas", entendo que ninguém mesmo, com o mínimo de neurônios, conseguiria como eles dizem "acreditar" em semelhante baboseira. Num reino transcendental à imagem e semelhança de um bom resort mediterrâneo. Na verdade, a imaginação dessa gente é tanta, que nem consigo visualizar o que eles provavelmente imaginam sem ficar com a sensação de estar sendo falsa. Me irritam igualmente todos os pretensos desejadores do Bem, pois eles não sabem o que é isto. Fico imaginando aquele cara que mora numa casinha com teto de zinco que tem que dar um tempo em algum lugar fresco, que nem sempre tem nas vilas, antes de voltar a ser cozido na sua casa. O que ele diria de gente que come nozes no Natal? E, sem querer (ser fdp), volto à questão espiritual, penso que o que hoje mora em casa de teto de zinco provavelmente foi o cretino que em outra ocasião fez alguma. Não é fácil ser eu, sei. E como não sei mais o que dizer, digo descubra. Te dá uma chance de duvidar. E entender. E sei lá. Ah, vai comer o que sobrou da ceia e não enche o saco.